Pedras no chão
Em 2019, fomos procurados no Estúdio Arquivo pelo autor Márcio Santos para inicialmente elaborarmos uma capa para o seu ebook, que já estava com o conteúdo todo finalizado.
Após algumas conversas para entender melhor as expectativas do autor, decidimos iniciar com um projeto de livro digital para que ele pudesse dar início à circulação da obra mais rapidamente e, num segundo momento, fizemos a adaptação do projeto gráfico para o livro impresso.
Após lermos o original do Márcio, tivemos a ideia de usar uma imagem de totem de pedras desses que vemos em cachoeiras na capa e, com isso, fizemos uma sugestão de alteração de título: de "Ácido na ponta da faca" para "Pedras no chão". Ao ver a arte proposta, com o novo título aplicado sobreposto à foto — num jogo tipográfico em que a fonte se transforma em outline ao entrar em contato com a foto —, o autor topou na hora.
Na versão impressa, o título ganhou cor com o uso de um pantone azul vibrante. E esse mesmo jogo tipográfico aparece também nos abres de capítulos no interior do livro, que foi todo impresso em preto sobre papel amarelado, para uma leitura bem confortável.
O charme final ficou por conta de um detalhe de produção gráfica: a linha de costura dos cadernos do miolo tinham a mesma cor do pantone azul da capa.
Professor Júlio Croce: uma vida, um legado
Em 2019, o Miguel Croce, autor da mini editora nos procurou para que nós ajudássemos o pai dele a publicar um livro.
O autor, Miguel Croce pai, havia feito uma extensa pesquisa sobre a vida do seu professor: o dr. Júlio Croce — que apesar do mesmo sobrenome não tem parentesco direto com os Miguel Croce. Ele nos enviou uma série de textos, depoimentos e imagens escaneadas sobre a trajetória pessoal, acadêmica e profissional do médico alergista e, em cima desse material, fizemos o projeto gráfico do livro.
Logo de cara, nos chamou atenção uma árvore genealógica que o professor havia encomendado lá na Itália para contar a origem da sua família, resolvemos então utilizar essa árvore — usando essa informação antiga tão preciosa e atualizando com os dados de filhos, netos e bisnetos — para fazer uma sobrecapa que se desdobra em forma de pôster. Essa mesma árvore aparece também no interior das orelhas, já que nem todos os livros vinham acompanhados da sobrecapa, e a proximidade com o miolo facilitava a consulta dos personagens ao longo da leitura do livro.
Na capa, sob a sobrecapa, optamos por uma foto do professor com inserções de texto bem discretas.
No miolo, imprimimos todas as páginas de texto em papel amarelado pólen bold — de textura mais agradável e melhor leiturabilidade — e dedicamos dois cadernos de 16 páginas para as fotos, que foram impressas coloridas no couché fosco branco para melhor reprodutibilidade das imagens.
Fragmentos de uma Encruzilhada
Nós não conhecíamos o grupo de dança Fragmento Urbano até sermos procurados pela Fernanda Cruz via mini editora para publicar o livro do grupo. Não sabíamos do que se tratava, o que eles dançavam, sobre o que haviam escrito, qual seria a qualidade do material que teríamos para trabalhar, mas nos interessamos justamente por esse mistério de adentrar num universo ainda desconhecido e que esbarrou na gente de forma misteriosa pelas encruzilhadas do mundo editorial independente.
A Fernanda já tinha o material quase todo pronto em processo de revisão — textos de dez autores e registros de doze fotógrafos — quando enviou para nós do Arquivo analisarmos. O projeto teve financiamento do 23º Edital de fomento à dança para a cidade de São Paulo e por causa dele havia um prazo restrito para a impressão dos livros, por uma questão de prestação de contas. Talvez em outras circunstâncias nós não nos arriscaríamos a entrar num projeto tão grande com tão pouco tempo, mas nós ainda não sabíamos que o projeto era tão grande — em quantidade de trabalho e no melhor sentido da palavra — e topamos.
A cor vermelha surgiu logo no começo, muito pelo que ela representa como símbolo de luta e resistência, mas também pelo contraste que ela oferece tanto em relação às cores claras quanto às escuras. Nós precisávamos dessa característica técnica, uma vez que a sobreposição de texto e imagem era uma premissa fundamental na construção desse livro.
A nossa intenção era criar duas camadas independentes que percorreriam as páginas do miolo: a de texto e a de imagem, uma ilustrando a outra quando fosse conveniente, mas quase como se uma não se deixasse interferir pela presença da outra na diagramação da página.
Os títulos e os nomes dos autores têm muita força e são compostos em corpos grandes na Sharp Grotesk. Já o texto em si é blocado na serifada Ivar Text, ora em branco ora em vermelho, de forma alternada.
Além dessa variação cromática entre texto branco em página vermelha e texto vermelho em página branca, nós propusemos ainda uma outra variação: a de sentido. A ideia era de que o leitor, ao folhear o miolo, fosse convidado a uma dança virando o livro de posição a cada novo texto.
Singularidades criadoras & Simplicidade impessoal
Em meados de 2018, fomos procurados pelo professor Amauri Ferreira para fazer um projeto gráfico totalmente novo para o seu livro de filosofia que estava com a primeira edição de 2014 esgotada, o "Singularidades criadoras".
Nós ainda não nos conhecíamos, mas nos interessamos pela chance de fazer um livro pelo Arquivo com edição independente, cujo principal público eram os alunos dos cursos livres de filosofia que o próprio Amauri oferecia pela cidade.
E que ótima oportunidade: fazer um projeto gráfico livre para um livro de conteúdo interessante e com um autor totalmente aberto a novas interpretações gráficas.
Logo após a primeira leitura do seu original, sem olhar a primeira edição para não sermos influenciados, nós apresentamos o projeto que acabou sendo impresso alguns meses depois praticamente sem alterações.
A nossa proposta privilegiou os setenta verbetes do livro. A gente queria que já na capa fosse possível ter uma ideia da abrangência daquele rico conteúdo e foi assim que do miolo nasceu a capa do Singularidades.
Depois de definido o desenho das páginas, fomos diagramando o texto ao longo do miolo respeitando a ordem do conteúdo que havíamos recebido. De acordo com o lado da dupla — página par ou ímpar — em que cada verbete naturalmente se iniciava, fomos estabelecendo uma lógica de navegação entre as páginas, de cima para baixo, em dez alturas diferentes.
Um quebra-cabeça aparentemente complexo que resultou em um desenho de sumário interessante, em que todas as páginas pares estão do lado esquerdo e todas as ímpares, do direito, numa ordem que corre de forma independente em cada um dos lados.
Assim, sempre que se procura um texto no sumário, além de se notar o número de página em que ele se encontra, se descobre também em qual dos lados do livro o verbete se inicia e em qual altura da página se encontra a sua chamada.
No ano seguinte, o Amauri nos encomendou mais um livro de aforismos: o "Simplicidade impessoal". Resolvemos seguir a mesma linguagem gráfica, propondo apenas algumas adaptações para o novo conteúdo. Dessa forma configuramos uma espécie de coleção mantendo o uso da mesma fonte, formato e materialidade.
Posteriormente, no ano seguinte durante a pandemia de covid-19 — com as aulas presenciais suspensas e, consequentemente, com as vendas diretas reduzidas — Amauri nos procurou para adaptarmos as duas obras para o formato ebook. Ele passou a comercializá-los na Amazon por um valor bem abaixo do impresso e, assim, pôde tornar o seu conteúdo acessível a mais leitores e leitoras.
,Entretanto,
Em meados de 2018, o André Ceballos entrou em contato com a gente lá de Brasília via mini editora para publicar o livro de poesias da sua esposa Lílian Saeko Taba. A mini, no entanto, estava vivendo um momento de pausa nos lançamentos e nós acabamos oferecendo os nossos serviços de projeto gráfico pelo Arquivo para que os dois publicassem o volume e o comercializassem de forma independente. Eles toparam.
O livro era um projeto do casal, a Lílian já havia escrito as 37 poesias e o André se prontificou a fazer tantas ilustrações nós achássemos necessárias para o nosso livro.
Logo no início do processo, nós pedimos para que ele nos enviasse uns exemplos do que estava acostumado a desenhar para conhecermos a sua linguagem e, como adoramos o traço e achamos que tinha tudo a ver com o clima dos poemas, acabamos pedindo que ele ilustrasse todas as poesias da Lílian, mais a quarta-capa.
Para desenhar esse livro, nos inspiramos nos próprios poemas da Lílian que nos soaram minimalistas, delicados e, ao mesmo tempo, poderosos.
A ideia era fazer um livro cru, de costura exposta, em que um único papel oferecesse textura e tranquilidade para a leitura, sem grandes áreas de impressão ou cores chapadas. Por isso, escolhemos fazer um livro sem capa, todo impresso em Pólen Bold.
Na frente, apenas o título e o nome da autora aparecem de forma contundente em corpo grande na única fonte utilizada em todo o livro: a Lyon. Na quarta capa, uma ilustração colorida dá a dica de que aquele, apesar de minimalista, é um livro de poesias ilustrado.
No miolo, nós buscamos estabelecer uma relação de forças entre o texto da Lílian — sempre impresso em preto, bold, em corpo relativamente grande nas páginas ímpares — e as ilustrações do André — coloridas, delicadas, sempre centralizadas, ocupando pequenas áreas de impressão das páginas pares.
O resultado é um livro delicado, simples na composição e nos acabamentos, em que o conteúdo é contundente mesmo falando baixo, possível apenas em casos como esse em que a relação entre texto e imagens se beneficia da afinada sintonia entre poeta e ilustrador.
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